Pó, Cinza e Recordações de J. Rentes de Carvalho (Quetzal)

"Aquele que não tem memória arranja uma de papel" Gabriel Garcia Márquez


Creio não ser de especial importancia que me repita aqui. José Rentes de Carvalho é para mim o melhor escritor português vivo. Tendo eu fundadas dúvidas que alguns dos que são publicados hoje em dia estejam de facto vivos. É que a diferença é tal, entre os que pretendem ser e os que são de facto, que chega a gerar um sentimento de pena genuina por algumas almas que se entretém ( a eles evidentemente ) a fazer chegar às estantes coisas "tipo arte". Coisas essas, cujo interesse e relevância estou certo, o Tempo, esse que é o critico em absoluto, as relegará para onde merecem, algures entre a nobre função de acender o lume ou outro tipo de reciclagem menos combustivel. Dito isto, passemos a outro patamar. Sabe quem tem tido o privilégio de acompanhar o blogue "Tempo Contado" do autor, o nível do que por ali tem vindo a ser publicado (infelizmente, e sublinho muito infelizmente, desde o dia 12 de Junho passado, que o autor informa o seu encerramento em definitivo, faço votos que os alegados motivos de força maior se dissipem e que possamos voltar todos a ter o prazer de ler José Rentes de Carvalho nesse genial formato). Este "Pó, Cinza e Recordações é o registo diário entre os meses de Maio de 1999 a Maio de 2000. O que quer dizer muito pouco, porque as reflexões, os episódios, a análise social e o escrutinio que Rentes de Carvalho detém sobre nós faz destes textos intemporais. É precisamente aqui que se regista a enorme diferença entre quem olha e descreve e quem vê e escreve. A visão que nos é oferecida sobre o mundo em geral e sobre uma certa maneira de ser português, reduzindo a pó, cinza e nada o acessório e mostrando o essencial, uma vez mais me convence que é ao génio que compete chegar à simplicidade. O humor, e uma forma de contar a vida e os outros que oscila entre o registo quase desapaixonado e a ira, dá-nos um livro que nos preenche. E, para quem gosta de ler, não há nada acima disso. Aguardo, como sempre que o Mestre nos vá dizendo coisas, por esta ou outras vias. Há uma espécie de fome que só se sacia com alimento desta natureza. Esperemos pois.
Boas Leituras :)

NA MESINHA DE CABECEIRA:

O MUNDO DE FORA de Jorge Franco (Alfaguara)
TUDO O QUE SOBE DEVE CONVERGIR de Flannery O'Connor (Cavalo de Ferro)
ROMANCE ACIDENTAL de Martha Woodroof (ASA)
O PACIFICO DE LÉS-A-LÉS de Michael Palin (Bizâncio)
ORGULHO E PRECONCEITO de Jane Austen (Ed. Presença)
D. QUIXOTE DE LA MANCHA de Miguel de Cervantes - Versão de Aquilino Ribeiro (Bertrand)
A CONVERSA DE BOLZANO de Sandor Marai (D. Quixote)
VIAGEM AO FIM DA NOITE de Louis-Ferdinand Céline (Ulisseia)
MONTEDOR de José Rentes de Carvalho (Quetzal)
O LEGADO DE HUMBOLDT de Saul Bellow (Quetzal)
AMORES E SAUDADES DE UM PORTUGUÊS ARRELIADO de Miguel Esteves Cardoso (Porto Editora)
PANICO NO SCALA de Dino Buzzati (Cavalo de Ferro)
TUDO O QUE SOBE DEVE CONVERGIR de Flannery O´Connor
VITORIA de Joseph Conrad (Ulisseia)
OS FACTOS de Philip Roth (D.Quixote)
DJIBOUTI de Elmore Leonard (Teodolito)
ALGUMA ESPERANÇA e LEITE MATERNO de Edward St Aubin (Sextante)
O FILHO DE Philipp Meyer (Bertrand)
A CASA DA ARANHA de Paul Bowles (Quetzal)
TEATRO DE SABATH de Philip Roth (D. Quixote)
O TODO-MEU de Andrea Camilleri (Bertrand)
O TEOREMA KATHERINE de John Green (ASA)
CONTOS E NOVELAS I de Saul Bellow (Relógio d´Água)
AS LUZES DE SETEMBRO de Carlos Ruiz Zafón (Planeta)
MAS É BONITO de Geoff Dyer (Quetzal)
LIBRA de Don DeLillo (Sextante)
RELATÓRIO DO INTERIOR de Paul Auster (ASA)
ALFABETOS de Claudio Magris (Quetzal)
MIRAGEM DE AMOR COM BANDA DE MUSICA de Hernán Rivera Letelier (Quetzal)
O JOGO DO MUNDO de Julio Cortázar (Cavalo de Ferro)
DIÁRIO PARA ELIZA de Lawrence Sterne (Antígona)

DANUBIO de Claudio Magris (Quetzal)

Comentários

Seve disse…
J.Rentes de Carvalho é um excelente narrador. Sou um seguidor. "COM OS HOLANDESES" não deixes de ler.

Mensagens populares deste blogue

Nonsense

O GNOMO (The Hobbit) de J.R.R. TOLKIEN (Livraria Civilização - Ed. 1962)

A ARTE DA ALEGRIA de Goliarda Sapienza (D. Quixote)